Estava uma manhã de sol no Hospício de Saint Ernest. Aquele
edificio apalaçado e antigo exibia , na sua entrada, majestosos portões marcados
por um ladrilho dourado. Raramente eram abertos àquela hora. Haviam chegado
mais uma dúzia de “pacientes”. Por fora, apenas se podia avistar a fachada de
um cor de rosa sujo no topo da colina. Até lá, desenhava-se toscamente um
caminho em terra batida. Serpenteado, desarranjado. A vegetação era um tanto
alta e seca. A meio da subida a terra perdia-se entre o arvoredo mais verde.
Ciprestes. Muitos ciprestes até ao topo da colina. Havia no ar um cheiro a humidade,
tinha chovido na noite anterior. A lama agarrava-se aos cascos do Bucéfalo, o
cavalo de Saint Ernest que seguia ,sofregamente, o passo desacertado de um par
de homens. Seguindo aquele trilho, após uns cinco minutos a passo longo,
chegava-se à escadaria que dava acesso a uma das entradas, dado que havia
quatro. Quatro lados. Quatro fachadas. Uma panorâmica aérea contemplava uma
espécie de quadrado mal desenhado com uma circunferência inscrita. O
“quadrado”, assim tratado por todos em Saint Ernest, era um edifício, fechado
sobre si mesmo, onde se prestavam alguns cuidados por parte dos “homens da
bata”. Cada lado do quadrado correspondia a uma ala hospitalar adequada a um
grau de demência: havia quatro.
Frédéric, o
professor, acabara de ter um delírio recorrente. Julgara estar em casa a viver
um episódio passado e acabou por sair da sua área sem a devida autorização. Era
a quarta vez numa semana. Preparava-se agora para transitar para a segunda ala.
Contudo isso envolvia uma passagem pelo “círculo” inscrito. Um amplo fosso
entre as alas.
- Uma semana meu
traste! Uma semana naquele poço de inferno! – disse a tal voz a Frédéric.
Bom dia, João Rio
ResponderEliminarParabéns pelo teu blogue.