sexta-feira, 14 de setembro de 2012

5ª publicação de "Os Loucos"


     Estava uma manhã de sol no Hospício de Saint Ernest. Aquele edificio apalaçado e antigo exibia , na sua entrada, majestosos portões marcados por um ladrilho dourado. Raramente eram abertos àquela hora. Haviam chegado mais uma dúzia de “pacientes”. Por fora, apenas se podia avistar a fachada de um cor de rosa sujo no topo da colina. Até lá, desenhava-se toscamente um caminho em terra batida. Serpenteado, desarranjado. A vegetação era um tanto alta e seca. A meio da subida a terra perdia-se entre o arvoredo mais verde. Ciprestes. Muitos ciprestes até ao topo da colina. Havia no ar um cheiro a humidade, tinha chovido na noite anterior. A lama agarrava-se aos cascos do Bucéfalo, o cavalo de Saint Ernest que seguia ,sofregamente, o passo desacertado de um par de homens. Seguindo aquele trilho, após uns cinco minutos a passo longo, chegava-se à escadaria que dava acesso a uma das entradas, dado que havia quatro. Quatro lados. Quatro fachadas. Uma panorâmica aérea contemplava uma espécie de quadrado mal desenhado com uma circunferência inscrita. O “quadrado”, assim tratado por todos em Saint Ernest, era um edifício, fechado sobre si mesmo, onde se prestavam alguns cuidados por parte dos “homens da bata”. Cada lado do quadrado correspondia a uma ala hospitalar adequada a um grau de demência: havia quatro.

   Frédéric, o professor, acabara de ter um delírio recorrente. Julgara estar em casa a viver um episódio passado e acabou por sair da sua área sem a devida autorização. Era a quarta vez numa semana. Preparava-se agora para transitar para a segunda ala. Contudo isso envolvia uma passagem pelo “círculo” inscrito. Um amplo fosso entre as alas.

  - Uma semana meu traste! Uma semana naquele poço de inferno! – disse a tal voz a Frédéric.

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