E a mim, homem de barro,
Atiram-me ao porão,
Onde sobre um anjo agarro
Uma asa que se aleija.
Sacode, a quem beija,
Por querer voar mais alto
Quando eu, num sobressalto,
Sinto o medo de cair!
Oh! Chama desse gelo!
Esfria o pesadelo
Que me queima de sentir,
E dá-me as tuas asas,
Anjo que te atrasas...
Dá-me, porque o barro
Que eu derreto sobre ti,
É a dor a que me amarro,
Dor que sinto e não vivi.
Deuses que me sintam,
Poetas do vazio,
Peço! Não me mintam!
Eu não sou deste navio...
João Rio

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