Primeiro dia:
Na escuridão vazia,
Uma força aglutinada
Pulsava sobre o Nada.
Esse Tudo, parado,
Oh! Astro Rei!
Também eu tentei!
Viva em sonho o que não morre,
Morra o Nada que há em Vida.
Segundo dia:
Mais que o Tudo prometia,
Outra onda se alevanta.
Oh! Rei do Fogo sob a fenda
Ergue o céu ao teu esplendor!
Céu no qual, como a águia sobre aldeia,
Pairas, vês o Sol de frente.
Minh'alma se incendeia
Com o que é Teu e não de gente.
Sonhava em miúdo,
Ser águia. Voar.
Do meu alto ver o Tudo,
Ver a terra, ver o mar.
Mas, se assim voa sobre nós,
Do seu alto é mais pequena.
Não nos vêem: somos sós.
Somos Nada, somos pena.
Terceiro dia:
Na força que se encerra,
Água baixa se entrevia
Na secura, agora Terra.
Baixa após a ordem
De fugirem para os vales.
Montanhas se descobrem
Neste grão ainda sem males.
Mas, à verdura
A semente.
Árvore da loucura,
Colhe o fruto de quem sente!
Ouve! Como a Natureza soa
Pela água que aqui corre!
És quem gela esta lagoa,
Passa o tempo e tudo morre.
Tudo menos Tu
Desde início no vazio.
A tudo dás o nu,
Calas, matas, dás o frio.
Deus, que és o meu tormento,
Sempre Inverno, quem Te dera?
Para quê cessar o vento
E do Nada, Primavera?
Em dois termos se acendia
Terra então alumiada.
Luminar de governada
Noite fria ao luar.
Luminar que rompe o Nada
Que se aquece ao teu raiar.
Assim se fazem os dias.
Breves para que rias.
Sim! Porque És louco e vil em mim!
Só te ouvi na escuridão.
Ante sonho que é no fim,
Longo eco sem razão.
Ser que fui e não mais sou,
Onde está a tua voz?
Grita agora o que calou
Este Nada que é o "nós".
Ri-me do Teu ser,
Exorcizei a Tua essência.
Ri-te, eu vou morrer.
Com ou sem demência.
Grande era a baleia,
Entre os mares, que se movia.
Estende a Tua teia
Rei dos animais viventes!
Dás-lhe a Tua areia,
Rei do Nada a governar.
Preparavas-me a existência.
Servo na dormência…
Ser-Te servo toda a vida,
Se o que vive em mim sincero
É por Ti alma reprimida?
De que serve a mim o brio
A espantar-me do pecado,
Se Te serves de elogio
P'ra mentir a um desalmado?
Não sei, mas obedeço...
A Ti, dominador!
Humilde assim mereço
Ser quem sou, viver em dor.
Belo paraíso!
Venha a companhia,
O pecado e venha o riso!
Que todos assim tomem
Como Rei do que criaste:
Todo e qualquer homem
Que Te reza e bem amaste.
Doutro à tua semelhança,
Assim nasce a razão.
Dai-Me a voz de uma criança
Para fazer uma questão:
Pergunto se Deus pensa.
Só sente? É feliz?
Perfeito na sentença,
Pensar, é de aprendiz.
Deus não pensa. Sente.
Sente e não se vê tentado?
Na hora que se esfria,
Ouve! Ouve o meu martírio,
Cala!
Cala um sopro forte
Apaga a chama

A cosmogonia é sempre um tempo inspirador. Esta é forte: a palavra certa torna-nos deuses.
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