quinta-feira, 13 de setembro de 2012

3ª publicação de "Os Loucos"

      - Esquece a doença meu Major. Bem sei que isso te aflige mas acredita, não te invejo.
      Seguiu-se um momento de música barroca. Três vozes desencontradas elevaram dois espíritos naquela sala. Projetei na minha mente aquele cenário estranho. Como podia eu entender o verde das paredes? Como tocava bem aquele homem. Não há dúvida que Bach era um mestre. A essência daquela peça transcende em muito aquelas linhas. O Major acabou de tocar, sinto o banco a estalar. Está a levantar-se, certamente. Tomo-lhe o lugar.
       - Ouça Franck.
       Procurei sentir o relevo das teclas a que chamam de sustenidos ou bemóis. A última de uma série de três. Carreguei. Sim, era um si bemol. Deixei o quinto dedo escorregar para o si e a mão adaptou-se. Não precisei de experimentar a esquerda. Sabia exatamente onde colocá-la.
      - Scarlatti. Uma sonata de Scarlatti.
      Quando acabei esperava ouvir os aplausos do Franck mas apenas ecoou o ranger da ripa sob o cravo. Chamei por ele. Silêncio. Debrucei-me sobre a cadeira junto a mim e senti o seu joelho. Segurei-o pelo colarinho da camisa e dei uns quantos puxões. Sem efeito. O meu amigo acabara de abandonar aquele corpo. Tinha ido para lugar nenhum.

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