- Não serias capaz? Então porquê meu caro?
- Utilizando as suas palavras não há qualquer tipo de “experiência estética”. Repare que não há um quadro, uma escultura.
- E de que me pode servir isso? Mas diz-me. Diz a um cego como eu o que é essa experiência estética para ti, que vês.
- Não sei que lhe diga, imagino que os objetos se componham de uma harmonia e de uma proporção que, em perfeita conjugação, os torna belos.
- Será mesmo assim? Amigo Franck, olha bem para mim. O que vês tu agora?
- Vejo-o a sorrir, creio que está feliz. Nunca o vi com tal sorriso Professor, isso alegra-me bastante.
- Verdade? Curioso como um sorriso te faz sorrir. Franck, eu sou psicanalista de profissão mas a música não se dissocia da minha vida. Nem da minha nem da tua, temos almas de artista. A nossa verdadeira mestra só pode ser a natureza. Como sabes, tenho um especial interesse por geometria mas tento não me prender a essa limitação. Não te esqueças que o maior bem é a liberdade.
- Limitação? Em que medida? Agora confesso que não o percebi, Professor.
- Transpões a beleza para as formas que contemplas, que conheces, mas a experiência do que é verdadeiramente sublime não tem forma. Ultrapassa as nossas capacidades imagéticas. É toda uma estrondosa força que não pode ser delineada. Enquanto cego não consigo deixar de ser curioso quanto ao estudo das formas mas isso afasta-me do Belo.
- Nunca tinha pensado dessa forma. As suas palavras fascinam-me Professor. Deixe-me que toque algo para si. Uma invenção de Bach. Três vozes.
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