quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Memórias...

Ouço o som ritmado e reconfortante dos comboios que passam. Dos carris desprende-se um cheiro particular e familiar. Ao longe, o azul do mar. São as primeiras sensações que guardo do Externato “A Minha Escola”, em Paço de Arcos, onde entrei aos dois anos de idade. Recordo também o sabor a mentol dos rebuçados do senhor “Zé”, o jardineiro do colégio, figura sempre presente e estimada por todos. As suas histórias faziam-me sonhar com aventuras que tomavam lugar no pátio da escola ou em qualquer outro lado, pois a magia da infância assim o permite. Foi aqui que fiz os primeiros amigos, alguns, estou certo, para o resto da vida.
Aos cinco anos, levado pela mão do meu avô materno, entrei noutro espaço: a escola de música. Uma escola que se tornou, desde cedo, um marco muito importante na minha vida. Os ritmos mal percutidos pelos corredores, o solfejo desafinado de jovens sopranos e até mesmo as ruidosas escalas cromáticas em violino conjugam-se numa paleta de sons que se torna harmoniosa. É neste ambiente que tenho feito grandes amigos e vivido intensas paixões (olhares que se cruzam numa aula de coro, primeiros beijos tímidos e rápidos na sala de orquestra).
Sempre tive um gosto especial pelo piano que, apesar de algumas frustrações, tem-me dado momentos de grande satisfação e realização pessoal que gosto de partilhar com os outros.
As pessoas não estão dissociadas dos espaços. Marcam-me esta vida de quinze anos. Os meus pais são uma linha contínua na minha vida. Das memórias saem rostos e vozes adultas: a minha primeira professora “Tina”, a professora de piano...
Actualmente vivo uma importante fase de transição para a idade adulta. Os sonhos são outros, alguns mais realistas, mas ,às vezes, ainda paro absorto a tentar ouvir o ruído do comboio que tantas vezes embalou os meus sonhos. Ainda são quinze anos.

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